Por
Luiz Ataíde
O
município de Benjamin Constant (AM) criado pela lei nº 191, de 29/01/1898, e
instalado oficialmente como município em 12/01/1904, com a posse de seu
primeiro prefeito Alfredo Augusto de Oliveira Bastos, é o município que mais
teve prefeito no Alto Solimões, alguns não chegaram a governar pelo menos um
ano completo, outros se perpetuaram no poder como o prefeito Nelson Noronha,
que governou o município por longos 10 anos.
Nomeado
pelo Governador Álvaro Maia por Ato de 23/12/1937, tomando posse em Manaus em
27/12/1937, chegando a Benjamin Constant (AM) na primeira classe do vapor
Ajudante em 18/01/1938. Com o título outorgado pelo governador de coronel,
lógico “coronel-de-barranco”, Nelson Noronha era um octogenário ranzinza, com
sério problema de estrabismo, ou como se diz no linguajar popular “vesgueta”,
somente retirava os óculos pra tomar banho, só tinha dois paletós, um preto e
um marron que só os tirava em casa e eram lavados apenas uma vez ao ano.
Todos
desejavam que um dia tivesse eleição pra escolher pelo voto um novo governante,
mas o prefeito entrava ano e saia ano e o velho continuava no poder, o povo de
saco cheio tinha de aguentar seu mau humor, era a ditadura de Getúlio Vargas
quem mandava no país, o Legislativo foi fechado e os Prefeitos nomeados por
conchavos políticos.
O
longo período de seu mandato provocara um descontentamento do povo. No sábado
de Aleluia de 1947, fizeram um boneco (um juda), colocaram dentro de um caixão
que amanheceu o dia na porta da Prefeitura, junto estava o testamento do
Prefeito se despedindo do povo, porque ia por Alto Javari cortar seringa. O
Prefeito mandou a polícia investigar os autores, nada descobriram, pediu ajuda
do comandante de Tabatinga que também nada descobriu. No mês de junho daquele
mesmo ano, durante as festas juninas num animado forró, o maior sanfoneiro de
Benjamin Constant, o “Vicentinho”, achou de homenagear o Prefeito com um
repente que dizia respeito ao seu paletó. Indignado, gritou aos policiais que
se faziam presentes “prende o safado”, mas ninguém era louco de prender o
sanfoneiro se não ia acabar o arrasta-pé. Mas o que mais deixou o Prefeito
“fulo”* da vida foi quando soube que dona Zulmira Loureiro, do povoado do
Marco-Divisório (Tabatinga), iria candidatar-se a vereadora . Dizia ele irritado
“onde já se viu mulher se meter em política, é o fim do mundo”. Aquilo era
demais para um machista como ele; fechou a Prefeitura, embarcou na gaiola Belo
Horizonte e foi para Manaus onde entregou o cargo ao governador.
Nas
eleições daquele ano de 1947, dona Zulmira foi a mais votada e a primeira
mulher na história do Amazonas a conquistar um cargo eletivo, direito
conquistado pelas mulheres na Constituição de 1947, promulgada pelo presidente
Eurico Gaspar Dutra.
*Com
raiva